Corrosão da corrente: Razão de debates sem fim, essa questão mexe com grupos de whatsapp, divide opiniões no facebook e racha a galera no pedal de domingo de manhã. Mas afinal, limão, querosene, cif… o que corrói e o que é eficiente para limpar uma corrente de bike e a transmissão? Para terminar de vez com o achismo, fui atrás de alguém que entede do assunto!
Foto de 10 anos atrás! Eu sou o magrelo do lado direito e outro cabra da foto é Giovani Paschoal, engenheiro formado pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR – foi meu entrevistado para desvendar essa questão de uma vez por todas.
Como vocês podem ver, Giovani entende de bike e sobre o assunto de corrosão da corrente. Vamos ver o que ele tem a dizer!
Parte 1 – O que é corrosão?
Aventrilha: Afinal, Giovani, o que é a famosa corrosão de corrente?
Giovani: O que acontece é o seguinte, Fernando: para utilizar as ligas metálicas que utilizamos na indústria no dia a dia, é necessário uma série de processos químicos que adicionam energia a esses metais.
Isso é necessário pois na natureza eles são encontrados na forma de compostos, como óxidos e sulfetos – ou seja, precisam ser modificados para serem utilizados como utilizamos. O que acontece é que esses metais tendem a voltar a seus estados naturais, de óxidos e sulfetos. Esse processo é o que a gente chama de oxidação, ou corrosão.
Aventrilha: Mas, Giovani, o aço da corrente é chamado de inoxidável. Isso não quer dizer que ele é imune a esse processo?
Giovani: O aço “inoxidável”, principal material utilizado na confecção de correntes de transmissão de bicicletas, na verdade é uma liga metálica que possui crômio em sua composição (cerca de 12%) o que faz com que se torne menos suscetível à corrosão, mas não isento.
Aventrilha: Por que bicicletas perto do mar ficam mais sucetíveis à corrosão da corrente?
Giovani: Os sais e a alta umidade presente no ar aceleram a corrosão da corrente pois são esses os ingredientes necessários para formar a chamada pilha de corrosão.
É isso mesmo que acontece: quando uma corrente elétrica passa por um metal, ela gera uma reção química que libera o óxido de ferro mono-hidratado, que tem uma cor alaranjada – a famosa ferrugem.
Parte 2- O que causa corrosão na bike
Aventrilha: Então qual tipo de produto que pode causar a corrosão da corrente?
Giovani: Visto que a corrosão é algo inevitável do ponto de vista químico, pode-se desacelerar a corrosão não agredindo a camada protetora de crômio, nem tampouco permitir que a umidade se instale.
Aventrilha: O uso do querosene e do removedor corroem a corrente?
Giovani: Não! Para que haja um ataque ao aço inox da corrente, oquerosene tem q reagir de alguma maneira com a superfície do aço. Porém os elementos da corrente e do querosene não têm nenhuma afinidade!
Os hidrocarbonetos presente no querosene são completamente apolares, enquanto o crômio – Cr2O3 – é um óxido polar. E apolar não reage com polar! Portanto não há nenhum tipo de ataque do querosene à superfície do aço inox.
Aventrilha: Recentemente, misturar limão com detergente para limpar a transmissão das bikes se tornou bastante popular. Do ponto de vista físico-químico, o limão é mesmo eficiente nessa limpeza? Ele pode corroer a corrente e a transmissão?
Giovani: O ato de limpar a corrente com o suco do limão propriamente dito não é o fator de corrosão da corrente. O limão é eficiente na limpeza da corrente. Sua natureza química (seis átomos de carbono, oito de hidrogênio e sete de oxigênio) reage com a ferrugem presente na corrente, tornando muito fácil de ser lavada.
Entretanto, o limão tem característica ácida! Dessa forma, caso qualquer resquício do suco de limão permaneça na corrente, ele favorecerá a corrosão da corrente sim.
Giovani: Na realidade, qualquer produto não nocivo que promova uma camada de proteção/lubrificação na corrente atende o propósito.
Um exemplo deles é o WD-40, lubrificante hidrofóbico.A questão principal é a durabilidade do produto, ou seja, o quanto tempo o mesmo irá atuar protegendo.
Produtos próprios para correntes, promovem uma proteção mais duradoura, porém tem a mesma função. Ou seja, o importante é manter a corrente protegida regularmente.
Resumindo
Fazendo um apanhado de tudo podemos decretar o seguinte:
- Querosene não corrói;
- CIF, WD-40, desengraxantes específicos não corroem;
- Suco de limão pode corroer caso fique qualquer resquício na corrente (provável de acontecer);
Agradecimento especial a Giovani por ter se disposto a responder as perguntas com tanta paciência.
SOUZA, Líria Alves De. “Aço inoxidável”; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.
HELENE, P. R. L. Corrosão em armaduras para concreto armado. São Paulo: Pini, 1986. 47p.