fernando cintra do aventrilha em bikepacking pelo tour des combins

Tour des Combins: relato de bikepacking nos Alpes

O Tour des Combins é um percurso de bikepacking nos Alpes na divisa da Itália com a Suíça. É um giro completo no monte Grand Combin, que dá nome ao tour.

Os 3 dias necessários para concluir o Tour des Combins colocam o cicloviajante imerso em algumas das montanhas mais altas da Europa – como o Mont Blanc e Matterhorn – lagos glaciares que parecem ter saído de um filme e trilhas espetaculares.

Se você pensa em percorrer uma rota de bikepacking nos Alpes, considere fortemente a ideia de pedalar o Tour des Combins. Mas deixo que meu relato e minhas fotos falem por si. Tenho certeza que ao final do artigo vai querer pedalar por lá também.

Resumo do Tour des Combins

  • Distância: 160km
  • Fora de asfalto: 120km
  • Ponto mais Alto: 2.800m
  • Ganho de elevação: 5.000m
  • Singletracks: 50% do tempo
  • Acampamento: É possível acampar selvagem nas duas noites
  • Dias: 3
  • Tempo pedalado: 60%
  • Bicicleta: Mountain Bike rígida
  • Época para percorrer: de Julho a Setembro
  • Dificuldade (1-10):  8

O percurso e GPX

O Tour des Combins – ou TdC – passa 50km dentro de território Italiano e os outros 110km em território Suíço. Por ser uma rota circular, o cicloturista pode escolher onde começar e terminar a rota. Minha sugestão é iniciar na cidade de Aosta e realizar o Tour de maneira anti-horária.

Sendo assim o GPX abaixo não inclui essa “perna” de Aosta até Allein – que adiciona uns 1000m de ganho de elevação, uns 20km de distância e é percorrido todo em asfalto. Ele também se inicia na divisa da Suíça com a Itália, o que é uma possibilidade para quem quiser ir de carro até o local bastante turístico e começar de lá.

O percurso é extremamente desafiador e exigirá do cicloturista não só uma mountain bike de qualidade , como também condicionamento físico excepcional e capacidade para encarar trilhas técnicas.

E falando especialmente do desafio físico técnico, há dois destaques.

O primeiro deles é logo no primeiro dia(dado que se comece em Aosta) e se trata também do ponto mais alto de toda da rota de bikepacking: Fenêtre de Durand:

fernando cintra no grand combin alpes bikepacking com rockrider xc500

Chegar aqui, a 2800m de altitude, não é tarefa fácil. Haverá um trecho absurdamente duro de “hike-a-bike” (literalmente carregar a bike nas costas ou empurrá-la com muita paciência) que não leva menos de 2 horas para ser transposto.

O esforço no entanto será recompensado na devida proporção. É aqui que se entra numa das áreas mais remotas dos Alpes, e também a divisa entre Itália e Suíça.

Picos cobertos de gelo, cachoeiras gigantescas, túneis esculpidos na rocha. É um lugar espetacular.

lago nos alpes proximo ao grand combin

O segundo grande desafio da rota de bikepacking é um trecho não tão duro fisicamente quanto esse, mas onde o cicloturista estará exposto a um desfiladeiro e será necessário usar as correntes da sessão de via ferrata para não se espatifar. Não é tão perigoso quanto parece na foto, mas é certamente arriscado caso a bike esteja muito carregada.

O Tour des Combins culmina com a reentrada na Itália no famoso Passo do Grande San Bernardo – cujo nome dá origem ao mítico cão São Bernardo e é riquíssimo em história e vistas sensacionais.

Mountain bike com bolsas de bikepacking no col du gran saint bernard

Acomodação/acampamento

Há incontáveis pousadas e hotéis em algumas das vilas percorridas na rota de bikepacking. No entanto, os Alpes como um todo ficam apinhados de turistas no verão europeu e portanto têm preços bem salgados.

Se você quiser uma viagem mais leve, sem precisar acampar e com o conforto de hotéis, não é nem necessário planejar e reservar com muita antecedência.

A excessão a essa regra é caso você queira ficar no próprio Hospice du Grand San Bernard, que é super famoso e tende a estar sempre cheio ou quase cheio.

No entanto, se você quiser percorrer a rota acampando, encontrará inúmeras oportunidades para armar sua barraca ao melhor estilo bikepacking.

O primeiro ponto que sugiro fica a algumas centenas de metros após a barragem do lago Mauvosin. O segundo fica após Bourg Saint Pierre.

barraca de acampamento selvagem nos alpes com pinheiros ao redor

Os dois  são feitos em território Suíço, e portanto é importante avisar que acampamento selvagem na Suíça só é legalmente aceito acima da “linha das árvores”, e portanto algo acima de 1500m de altitude.

O segundo ponto não é tão alto assim, mas os habitantes da vila que cruzaram comigo na trilha me encorajaram fortemente a acampar alí mesmo, sem exibir nenhum tipo de preocupação com essa regra.

Meu sistema de dormir consistia em:

  • Barraca Forclaz Ultralight 1p da Decathlon
  • Saco de dormir Ferrino conforto 0ºC
  • Travesseiro e isolante da Decathlon que não sei especificar.

Clima

Os Alpes são algumas das montanhas mais altas do mundo. Você estará constantemente acima de 2000m de altitude e algumas vezes perto dos 3000m, com montanhas de quase 5000m ao seu redor como o Mont Blanc e o próprio Grand Combin.

montanhas e lago nos alpes suiços

Dito isso, se prepare para frio e possibilidade de neve, até mesmo no verão. Passei na Fenêtre de Durand umas 15h e estava 10ºC. À noite, a 1500m, fez um frio violento e eu amanheci com a barraca congelada.

Tenha isso em mente. Realizar bikepacking e cicloturismo em altitudes elevadas é incrível mas requer atenção. Se você já pedalou nos Andes o algum outro lugar assim, sabe do que estou falando.

A rota foi percorrida entre os dias 16 e 18 de Agosto.

Bagagem e reabastecimento

Venha tão leve quanto possível. Traga o básico do básico. Você aguenta dois dias sem banho e sem comidiha quente. Deixe shampoo, sabonete, fogareiro, gás e outras bugigangas em casa.

Água é abundante em toda a rota e é possível levar apenas duas garrafinhas de 750ml. Eu quase nem cheguei a usar a segunda, mas não é bom arriscar.

Se quiser comer de restaurantes, terá pratos fantásticos para degustar da região. No entanto se preferir comprar de supermercados, é possível reabastecer em alguns pontos da rota.

Eu, como de costume, não cozinho nada em cicloviagens. Como tudo gelado ou preparo no estilo cold soaking – coisas que deixo na água hidratando e depois só jogo um temperinho.

Bicicleta e bolsas

Fui com uma Rockrider XC 500 da Decathlon.

rockrider xc500 da decahtlon com bolsas de bikepacking nas montanahs dos alpes

As bolsas utilizadas foram:

  • Bolsa de guidão Ortlieb L
  • Bolsa de selim Ortlieb L
  • Bolsa de cockpit Ortlieb
  • Bolsa de quadro Ortlieb S
  • Bolsa no toptube da Decathlon (não sei o modelo)
  • Mochila de 20l Quechua
  • Bolsa para câmera da própria Canon presa em cima da bolsa de guidão (como se fosse uma auxiliar)

Fotos e perspectiva

Foram três dias de cicloturismo numa região espetacular em meio a picos altíssimos me ensinou muito sobre bikepacking.

A queda abrupta de temperatura, as geleiras imponentes, as trilhas super técnicas… se você estiver pensando em realizar uma rota de bikepacking nos Alpes não pense duas vezes. Faça o Tour des Combins

Você encontra todas as melhores fotos da viagem no meu Instagram, entre os dia 16 e 18 de Agosto de 2019

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